Os Maias - sarau literário
domingo, 16 de março de 2014
sábado, 15 de março de 2014
sexta-feira, 14 de março de 2014
Educação em Os Maias
No romance Os Maias, Eça de Queirós, no propósito de elaborar um retrato da sociedade, que se percebe no subtítulo Episódios da Vida Romântica, edentro do espírito naturalista, procura encontrar razões para a crise social, política e cultural a partir da formação do indivíduo. Fator de humanização, desocialização e de autonomia, a educação produz ou reproduz modelos sociais e políticos que propõem um sistema de valores e princípios que são a base deuma sociedade.
O tema da educação é frequentemente tratado por Eça de Queirós e surge n'Os Maias como um dos principais fatores comportamentais e da mentalidadedo Portugal romântico por oposição ao Portugal novo, voltado para o futuro. Não só deparamos com dois sistemas educativos opostos, como é frequentever as conceções de educação afloradas ao longo da obra através de opiniões das personagens ou das mentalidades e cultura que revelam.
Pedro da Maia e Eusebiozinho protagonizam a educação tradicionalista e conservadora, enquanto Carlos recebe a educação inglesa. A incapacidade paraenfrentar as contrariedades ou a capacidade para se tornar interveniente na sociedade são as consequências imediatas dos processos educativos opostos.
A educação tradicionalista e conservadora caracteriza-se pelo recurso à memorização; ao primado da cartilha apenas com os saberes e os valores aíinsertos; à "moral do catecismo" e da devoção religiosa com a conceção punitiva do pecado; ao estudo do latim como língua morta; à fuga ao ar livre e aoreceio do contacto com a Natureza.
A educação inglesa caracteriza-se pelo desenvolvimento da inteligência graças ao conhecimento experimental; pelo desprezo da cartilha, embora com adefesa do "amor da virtude" e "da honra" como convém a "um cavalheiro" e a "um homem de bem"; pela ginástica e pela vida ao ar livre; pelo contactodireto com a Natureza, pelo gosto das línguas vivas.
A educação tradicionalista e conservadora desvalorizou a criatividade e o juízo crítico, deformou a vontade própria, arrastou os indivíduos para adecadência física e moral. Em Pedro da Maia, por exemplo, levou-o a uma devoção histérica pela mãe e tornou-o incapaz de encontrar uma solução para asua vida, quando Maria Monforte o abandonou; em relação à personagem Eusebiozinho, tornou-o "molengão e tristonho", arrastou-o para uma vida decorrupção, para um casamento infeliz e para a debilidade física.
A educação inglesa procurou "criar a saúde, a força e os seus hábitos", fortalecendo o corpo e o espírito. Graças a ela, Carlos da Maia adquiriu valores dotrabalho e do conhecimento experimental que o levaram a abraçar um curso de medicina e a projetos de investigação, de empenhamento na vida literária,cultural e cívica.
A vida de ociosidade de Carlos e o sequente fracasso dos seus projetos de trabalho útil e produtivo não resultaram da educação, mas da sociedade em quese viu inserido. A ausência de motivações no meio em que se movimentou, o próprio estatuto económico que não lhe exigia qualquer esforço e a paixãoromântica que o seduziu foram causas suficientes para, apesar de culturalmente bem formado, desistir, sentir o desencanto e afastar-se das atividadesprodutivas. Mas ao contrário do seu pai, Pedro da Maia, que, perante o fracasso amoroso, se suicidou, Carlos procura um novo caminho, elaborando umafilosofia de vida, a que chama "fatalismo muçulmano": "Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento.Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves."
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